Vedações de arame farpado matam corujas, veados e muitos outros animais selvagens

Vedações de arame farpado matam corujas, veados e muitos outros animais selvagens

23 de Agosto, 2018 0

coruja presa numa vedação de arame farpado

Todos os anos, o arame farpado fere e mata inúmeros animais selvagens em todo o mundo: corujas em Portugal, veados no Reino Unido, cangurus na Austrália, tigres na Índia, entre muitas outras espécies.

Normalmente, o enredamento ocorre quando os animais não veem a vedação ou não a conseguem transpor. Os animais noturnos, como as corujas e os morcegos, estão entre os mais afetados.

O tempo ventoso, a proximidade das vedações a árvores de fruto ou a corpos de água, assim como outros fatores, também podem aumentar o risco de enredamento.

As mortes provocadas por estas estruturas são, em grande medida, evitáveis. Em muitos casos, o arame farpado não cumpre uma função essencial e pode ser substituído por outro material. Noutros, algumas medidas simples poderão ajudar a reduzir a sua perigosidade.

tigre com uma pata presa numa cerca de arame farpado
Este tigre ficou com uma pata presa numa cerca de arame farpado na Índia. Felizmente foi resgatado a tempo. | Foto: Departamento Florestal de Karnataka

Os animais resgatados de situações de enredamento têm muitas vezes ferimentos graves. Nos morcegos, por exemplo, “a dimensão dos danos provocados pela constrição da circulação para as membranas das asas e para outras partes do corpo raramente se torna óbvia até terem passado quatro ou cinco dias. Se os animais forem simplesmente libertados das vedações, sem reabilitação, a maioria acabará por morrer de fome”, explica Carol Booth, da organização Queensland Conservation Council.

A construção de barreiras e muros de arame ao longo das fronteiras de vários países europeus para travar a entrada de refugiados também tem vindo a causar a morte de inúmeros animais selvagens, incluindo linces, veados e corços.

Uma vez presos no arame, estes animais tentam libertar-se com puxões bruscos, que os deixam cada vez mais enredados.

Veado morto enredado numa vedação de arame farpado na Eslovénia
Veado morto enredado numa vedação de arame farpado na Eslovénia | Foto: Martin Lindic

Em Portugal, “de entre as espécies de rapinas noturnas que dão entrada nos centros de recuperação CERVAS e RIAS, as afectadas por este tipo de vedações – possível colisão e ferimento grave da ave – são o bufo-real e o bufo-pequeno”, conta o STRI – Rapinas Nocturnas de Portugal, um projeto dedicado à divulgação e conservação destas aves.

Para prevenir estas situações, a Noruega proibiu, em 2010, a colocação de novas vedações de arame farpado para limitar a migração dos animais.

Como a maioria dos casos de enredamento passa despercebida ou não é comunicada e muitos dos animais que morrem nas vedações são removidos por predadores e necrófagos, existe pouca informação sobre os números totais de indivíduos afetados.

Como ajudar os animais presos

Se encontrar um animal preso numa vedação de arame farpado, faça o seguinte:

  • Contacte a linha SOS AMBIENTE 808 200 520 ou a GNR/SEPNA local.
  • Não se aproxime do animal preso, já que este poderá debater-se e agravar as suas lesões.
  • Sempre que possível, deixe o resgate a cargo de um profissional especializado, para reduzir o risco de provocar mais ferimentos ao animal e de que este o possa ferir a si.
  • Mantenha as pessoas – especialmente as crianças – e os outros animais à distância.
  • Evite tocar em morcegos. Se for necessário tocar-lhes, use sempre luvas.

O que fazer para reduzir o risco de enredamento

Para minimizar o impacto destas vedações na vida selvagem, pode fazer o seguinte:

  • Utilizar opções amigas da fauna selvagem: Já pensou em colocar sebes vivas de arbustos ou árvores nativas?
  • Substituir o arame farpado por outro material: A melhor opção será sempre a remoção do próprio arame farpado. Caso isto não seja possível, substitua os cabos do topo por arame simples ou revestido com plástico.
  • Aumentar a visibilidade: Pode colocar objetos visíveis e sonoros na vedação, como bandeirinhas ou fita branca, para aumentar a sua visibilidade e ajudar os animais a evitá-la. (Não coloque itens de plástico nas cercas para o gado, já que este poderá ingeri-los.)
  • Monitorizar as cercas de arame farpado da sua zona: Comunique situações de enredamento à linha SOS AMBIENTE, à GNR/SEPNA ou a um centro de recuperação.
  • Evitar a instalação de vedações perto de árvores de fruto, corpos de água ou em corredores para a vida selvagem. Da mesma forma, não cultive plantas com flor ou de fruto perto destas vedações.
  • Encorajar a colocação de cercas amigas da vida selvagem na sua zona: Fale com organizações e a sua câmara municipal sobre este assunto.
  • Remover o arame farpado redundante o mais rápido possível.


1ª foto: Owl’s Nest Sanctuary for Wildlife

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