África do Sul autoriza a exportação anual de 1500 esqueletos de leão

África do Sul autoriza a exportação anual de 1500 esqueletos de leão

25 de Julho, 2018 0

Leão

O Departamento dos Assuntos Ambientais da África do Sul anunciou a nova quota de exportação de esqueletos de leão, aplicável a partir do dia 7 de junho de 2018.

De acordo com o estipulado, poderão agora ser exportados anualmente 1500 esqueletos de leões criados em cativeiro, quase o dobro do número permitido no ano passado (800).

O controverso comércio legal de ossos de leão da África do Sul começou há uma década, para preencher a lacuna deixada no mercado pelas medidas para a proteção dos tigres, uma espécie em perigo de extinção. As partes corporais de tigre são usadas na medicina tradicional chinesa há séculos, por se acreditar, erroneamente, que curam diversos problemas de saúde, incluindo úlceras, malária e impotência.

A África do Sul é um dos principais destinos para a prática de caça de troféus de leões criados em cativeiro, sendo também o maior exportador legal de ossos e esqueletos destes grandes felinos. Atualmente, existem, no país, entre 6000 e 8000 leões mantidos em cativeiro em mais de 200 instalações de reprodução.

O governo sul-africano legitima o comércio de ossos, alegando que estes são um “subproduto” da indústria de caça e que as restrições à importação de troféus impostas em países como os EUA têm dado origem a um stock crescente de ossos.

Os cientistas, ativistas e organizações que se opõem a este comércio defendem que há cada vez mais leões a serem criados e mortos com o único propósito de satisfazerem a procura asiática.

Crânio de leão
Crânio de leão | Foto: Roo Reynolds/Flickr

Segundo Michele Pickover, diretora da EMS Foundation, as investigações da sua organização revelaram que foram exportados, no ano passado, “muitos mais” esqueletos de leões do que os 800 permitidos.

“Também acreditamos que cerca de 90% dos esqueletos de leão que foram para a Ásia ainda tinham os seus crânios, o que significa que não foram caçados ou os crânios teriam sido guardados como troféus”, disse a ativista.

“Desenvolver-se uma indústria que abate leões em matadouros para a obtenção dos seus ossos é indefensável e não pode ser justificado.”

O anúncio da nova quota de exportação foi severamente criticado por inúmeras organizações de conservação.

“A quota do ano passado já era suficientemente chocante: o aumento para 1500 em 2018 não possui qualquer fundamento científico e é uma flagrante licença para matar para a indústria de criação de leões. [Esta] quota de exportação normaliza e exacerba a procura por partes de leões e até de outros grandes felinos, incluindo os tigres, como os estudos e as apreensões têm mostrado”, declarou Audrey Delsink, diretora executiva da HSI/Africa. “O aumento da quota pode até incentivar a criação de novas instalações de reprodução.”

Paul Funston, do programa de leões e chitas da organização Panthera, defendeu que o comércio de ossos aceleraria “a matança de leões selvagens por causa das suas partes corporais nos países vizinhos.”

Leão preso
Foto: Ian Michler/Blood Lions

“O comércio de ossos não pode continuar a ser visto como um subproduto conveniente da caça; a caça furtiva de leões, tanto selvagens como em cativeiro, está a crescer, assim como a procura por ossos de leão”, declarou a equipa por trás do documentário Blood Lions (“Leões de Sangue”). “A Blood Lions vê com acrescida preocupação a forma como o Departamento dos Assuntos Ambientais continua a estar envolvido nas questões relativas à indústria de criação de leões em cativeiro, quando o mesmo alega que o seu mandato se limita à conservação da biodiversidade.”

Cerca de 9000 caçadores de troféus visitam anualmente a África do Sul, sendo a maioria proveniente dos EUA.

Os esqueletos de leão podem atingir o preço de 140€/kg, ou cerca de 4000€ por leão. A isto acrescem 940€ pelo crânio, se o caçador não o guardar como troféu.

Desde 2008, foram vendidos legalmente mais de 6000 esqueletos de leões da África do Sul. Cerca de 98% têm como destino o Vietname, a Tailândia e Laos, onde os ossos são reduzidos a um preparado em formato de barra, que os consumidores compram e adicionam, por exemplo, ao vinho de arroz.

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