Vai desperdiçar essa comida? O documentário Wasted Waste vai fazê-lo pensar duas vezes

Vai desperdiçar essa comida? O documentário Wasted Waste vai fazê-lo pensar duas vezes

24 de Novembro, 2017 0

 

O “Wasted waste” é um documentário sobre o desperdício alimentar que nos dá a conhecer o freeganismo, que luta contra este desperdício. Ao mesmo tempo, mostra movimentos que contribuem para um estilo de vida mais sustentável, como a Fruta Feia, Re-Food, Maria Granel, Banco do Tempo, GoodAfter.

O UniPlanet falou com Pedro Serra que nos apresentou o seu novo documentário.

 

UniPlanet (UP): Como surgiu a ideia para este teu novo projeto?

A ideia para este documentário surgiu algum tempo depois de ter tomado conhecimento do que era o Freeganismo e precisamente por saber que havia ainda pouca informação sobre o mesmo, ou a que havia, ser ainda tabu.
Como já tinha feito uma longa metragem em torno da sustentabilidade – o documentário “Que Estranha Forma de Vida” sobre comunidades em busca da auto suficiência, achei que o Freeganismo seria um ponto fulcral a ser explorado num novo projeto.
Num mundo onde 3,6 milhões de kg de comida são desperdiçados diariamente em todo o mundo, enquanto 870 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas apenas com este desperdício, 800 milhões de pessoas passam fome no nosso Planeta (dados FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura). São dados pouco contabilizados no nosso dia-a-dia e penso que merecem ser consciencializados.

 

Bananas no lixo

 

UP: À medida que foste começando a investigar o desperdício alimentar para a realização do teu documentário “Wasted Waste”, quais foram os factos que mais te chocaram?

A comida que facilmente é desperdiçada. Digo facilmente porque vi comida em perfeitas condições a ser descartada logo na primeira fase (no produtor) por não ter as medidas standard que os supermercados exigem (cor, tamanho, textura). Ou a comida que é “perdida” no transporte e manuseamento da mesma. Se uma caixa vai ao chão é automaticamente descartada. Por aí fora.
Depois, pior que isto, é a privação imposta a quem quer reaproveitar esta comida. Os supermercados fazem de tudo para impedir o acesso à comida desperdiçada. Um exemplo muito simples e escandaloso é o uso de lixívia na comida que vai para os contentores, para que ninguém a colete. Ou espalharem tudo para que certos alimentos se tornem incomestíveis, como misturarem legumes com outro tipo de lixo, ou abrirem sopas, etc. São só alguns exemplos, justificados mais uma vez pelo lucro. Se as pessoas reaproveitam comida destes contentores, já não a vão comprar…

 

 

UP: Queres falar-nos um pouco sobre o desperdício das grandes superfícies e dos principais hipermercados portugueses?

Como sabemos, dados mundiais, 1/3 da comida produzida é desperdiçada em toda a sua cadeia. Desde a fase de produção, ao consumidor final. 198mil hectares foram usados para produzir toda esta comida desperdiçada. Tudo isto são dados que não são contabilizados, trazendo consequências catastróficas para o Planeta e seus habitantes. Estamos a falar de recursos hídricos, energia, trabalho laboral, terras e todos os recursos naturais associados. Para não falar da destruição de biodiversidade (desflorestação, erosão dos solos, etc.) que a agricultura intensiva acarreta.
Centrando-me diretamente na questão (tinha de falar em termos globais para chegar à questão nacional) em Portugal, estes dados representam um desperdício anual de 180kg de alimentos por cada português. Falando em entidades, não vou revelar nomes por motivos óbvios, mas tive o desprazer de ver toneladas e toneladas de comida ao final do dia irem para o lixo! Comida em ótimas condições espalhada que não vai ser aproveitada de maneira alguma! Há aqui algo que tem de mudar. E quando o PAN (partido pelas Pessoas, Animais e Natureza) levou à Assembleia a lei que procurava promulgar benefícios fiscais para superfícies comerciais que doassem os excedentes a instituições de solidariedade (bem como penalizações a quem não o fizesse), foi rejeitada por todos os partidos!
Felizmente, há quem continue a batalhar contra todo este desperdício e é sobre isso que é este documentário. Tanto pessoas individuais (os freegans) como entidades coletivas como a Re-Food, Fruta Feia, Food For Life, Maria Granel, GoodAfter…

 

Loja Maria Granel

 

Este documentário é por isso sobre estilos de vida individuais com repercussões conscientes no coletivo. Porque do ponto de vista da Natureza não existe desperdício. É a simbiose da vida. Um todo constituído de variáveis interdependentes, cada uma com sua causa e reação.
Se a civilização se ergueu a partir da idade da pedra, então também se poderá erguer a partir da idade do desperdício. Apocalipse significa descobrimento e não necessariamente desastre. São os descobrimentos da realidade, estamos a enfrentar a realidade, devemos ser otimistas e recebê-la bem. Atualmente temos os recursos, a tecnologia e o conhecimento para fazer do mundo um sucesso completo para todos, sem nos apoderarmos ou destruirmos o meio envolvente. A crise existe para nos levar ao próximo nível da existência como espécie. É nisso que acredito.

 

UP: Para quem não conhece o conceito, queres explicar-nos o que é o freeganismo?

Freeganismo é um estilo de vida alternativo baseado no boicote ao capitalismo, com vista a diminuir o impacto causado no meio ambiente e rejeitando qualquer forma de exploração humana e animal. Fazem-no através do consumo limitado e consciente de recursos, bem como o resgate (reaproveitamento) do desperdício. Não por necessidade. Mas por acreditarem que a sociedade produz acima das suas necessidades e possibilidades, com vista a dar continuidade a uma sociedade de consumo e crescimento ilusório.

 

UP: Agora que vês o desperdício alimentar com outros olhos, que dicas nos dás para alterarmos os nossos hábitos?

Para o consumidor comum, aquilo que mais aconselho do que aprendi, é a fazermos cada vez mais uma compra planeada. Sabermos o que precisamos realmente, não comprarmos acima das nossas possibilidades, comprarmos localmente, evitarmos grandes superfícies, tomarmos conhecimento de como, quem e de onde os nossos produtos vieram. E acima de tudo, consumir menos e reaproveitar mais. O mundo não suporta mais este estilo de vida baseado num crescimento ilusório à custa de recursos que são finitos. Pensarmos mais do ponto de vista da Natureza e menos do ponto de vista do capital.

 

 

UP: Quais foram as principais dificuldades que sentiste na realização do “Wasted Waste”?

As principais dificuldades penso que foi chegar às pessoas. Mais de 90% dos freegans que tentei contactar não quiseram dar a cara. E eu entendo. A lei não está do lado deles. Muito menos a maior parte dos media. É algo que é mal visto do ponto de vista social. E foi isso que quis desmistificar. É isso que tento fazer com todos os meus projetos. Mostrar o outro lado e levantar questões ao espectador. E também nenhuma das grandes cadeias de supermercados em Portugal ter querido falar connosco.

 

UP: Para terminar, onde podemos assistir ao teu documentário e onde podemos encontrar mais informação sobre o “Wasted Waste”?

A melhor maneira de estarem a par de todas as novidades, será mesmo na nossa página do facebook, onde estará tudo em primeira mão (próximas exibições, notícias, etc.) e também onde anunciaremos quando ficará online: facebook.com/wastedwastedocumentary.

 

Caixote do lixo

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