Plástico descoberto nos estômagos das baleias, golfinhos e botos da costa da Irlanda

Plástico descoberto nos estômagos das baleias, golfinhos e botos da costa da Irlanda

15 de Novembro, 2017 0

U m novo estudo, publicado na revista científica Environmental Pollution, descobriu sacos de plástico, redes de pesca, invólucros de gelado e até um cartucho de espingarda nos aparelhos digestivos de várias espécies de golfinhos, baleias e toninhas na costa da Irlanda.

“Ficamos surpreendidos por descobrir que as espécies marinhas que mergulham até grandes profundidades, como as baleias, que se pensaria que estariam menos expostas a estes resíduos, tinham incidências mais elevadas de plásticos”, disse Simon Berrow, coautor do estudo.

“Extraímos um cartucho de espingarda do estômago de uma baleia-de-bico-de-true que deu à costa em 2013. As baleias-de-bico-de-true são muito raras e passam 98% do seu tempo debaixo de água, por isso não se veem à superfície. A descoberta de um cartucho num dos seus estômagos mostra a extensão da sua exposição aos resíduos antropogénicos”, afirmou.

Quase 10% dos 528 cetáceos autopsiados continham detritos de plástico (macroplásticos) nos seus aparelhos digestivos. Todos os animais nos quais os investigadores procuraram microplásticos – grânulos, fibras e fragmentos com menos de cinco milímetros de diâmetro – continham estas pequenas partículas de plástico no seu sistema digestivo. O número de partículas encontradas nestes animais variava entre uma e 88 fibras.

O estudo incluiu a análise de relatórios da autópsia de cetáceos que deram à costa ou foram pescados como capturas acessórias entre 1990 e 2015, sendo considerado o maior trabalho do seu género até à data.

Todos os anos, pelo menos oito milhões de toneladas de plástico vão parar aos oceanos. Estas são estimativas da Fundação Ellen MacArthur, cujo relatório também avisou que, até 2050, haverá mais plástico, por peso, do que peixes no mar.

“A não ser que haja uma mudança radical na forma como usamos plástico, prevemos que isto vá piorar”, disse Karin Dubsky, ecologista marinha e cofundadora da Coastwatch Europe. “Os camarões ingerem essas fibras. Um bacalhau, ou outro peixe, come o camarão e elas vão subindo na cadeia alimentar.”

“É chocante”, defendeu Tony Lowes, diretor da Friends of the Irish Environment. “Não me ocorre um único efeito positivo dos plásticos no oceano. Uma garrafa de plástico demora 450 anos a decompor-se. Há faixas de plástico, com centenas de quilómetros de tamanho, no meio do Atlântico. Nada pode justificar esse nível de contaminação.”

O ministro irlandês de Comunicações, Ação Climática e Ambiente, Denis Naughten, disse que estava a trabalhar para reduzir a utilização excessiva de plástico.

“Na reunião da OCDE do ano passado, em Paris, abordei especificamente o tema das micropartículas e da poluição de plástico”, declarou. “Prometi o empenho e a determinação da Irlanda no apelo a uma proibição à escala europeia, que não se limite aos produtos de cuidado pessoal e inclua também os outros produtos domésticos.”

Entretanto, Naughten diz que não vai ficar à espera da UE, preparando-se para proibir as micropartículas de plástico na Irlanda.



Exemplos dos detritos de plástico encontrados nos aparelhos digestivos dos cetáceos
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