Rafael Pinto: cerca de 80% da área agrícola utilizada no mundo é para a produção animal

Rafael Pinto: cerca de 80% da área agrícola utilizada no mundo é para a produção animal

7 de Novembro, 2022 0

O UniPlanet pediu aos nossos leitores do Instagram que nos sugerissem uma personalidade para entrevistarmos. E foi assim que surgiu esta entrevista ao Rafael Pinto, autor do livro “Saúde e Fitness Vegan”.

 

UniPlanet (UP): Queres começar por nos apresentar o teu livro “Saúde e Fitness Vegan”?

É um livro que junta toda a informação necessária para sermos saudáveis e conseguirmos atingir o nosso potencial máximo em termos de performance física e ganho de massa muscular, com uma dieta vegan. Junta num único sítio a informação de saúde e desporto com uma escrita “relativamente” fácil de entender para quem nunca aprofundou temas de saúde e nutrição.

Era muito importante para mim, tendo em conta o tópico, que fosse altamente baseado em ciência e por isso apresento mais de 1200 referências científicas ao longo do texto. Para além disto, foi ainda revisto por um nutricionista desportivo e um médico, para garantir que tudo está de acordo com os padrões académicos.

 

Rafael Pinto

 

UP: Quais são para ti os principais mitos em relação a uma alimentação vegetariana?

O mito mais comum, quando me tornei vegan, era a questão da proteína. Era comum pensar-se que os vegans não podiam ser atletas porque a proteína vegetal era escassa ou de qualidade inferior. Hoje em dia penso que esta questão já está totalmente ultrapassada na ciência e mesmo a um nível mais popular, já é raro alguém me perguntar onde vou buscar a proteína.

Depois diria que algumas questões mais sociais, como o pensar que precisamos de carne para ser saudáveis ou a ideia de que ser vegan é mais caro ainda prevalecem. No entanto, cada vez há mais informação e a sociedade já começou a perceber que comer cereais, vegetais e leguminosas pode sair bem mais barato.

 

Rafael Pinto

 

UP: Porque é que o consumo de carne provoca um grande desperdício?

Está relacionado com e eficiência na produção de alimentos. Neste momento, produzimos quantidades gigantes de cereais e leguminosas para alimentar os animais que comemos, havendo uma grande perda, já que poderíamos ir diretamente a estas fontes buscar os nossos nutrientes, sem perdas. Por exemplo, cerca de 80% da soja produzida na Amazónia é para consumo animal. Cerca de 80% da área agrícola utilizada no mundo é para a produção animal. No entanto, os produtos de origem animal representam uma pequena parte das calorias que consumimos durante o dia. Se reduzirmos esta produção, vamos conseguir libertar espaço, evitar desflorestação e até plantar novas florestas.

Depois também podemos falar das emissões de CO2 e metano por parte da agropecuária, cerca de 18% das emissões mundiais (todo o sistema alimentar, incluindo fábricas de processamento representam aproximadamente 30% das emissões globais). Já temos estudos de alta qualidade, incluindo do próprio IPCC que nos dizem que a dieta mais sustentável é uma dieta de base vegetal e que não vamos conseguir atingir as metas climáticas sem reduzir drasticamente o consumo de produtos de origem animal. Em Portugal, segundo um estudo da Universidade de Aveiro sobre a pegada de carbono dos portugueses, a maior fatia é a alimentação, cerca de 30% só depois os transportes.

Importa ainda falar da água, um bem precioso, que nos apercebemos cada vez mais ser escasso. Produzir carne leva a um desperdício significativo de água, uma vez que precisamos de uma grande quantidade para rega das rações e depois para os animais em si. É por isso que produzir 1kg de carne de vaca pode gastar aproximadamente 15.000L de água. São valores difíceis de compreender. Na verdade, a grande maioria da água que usamos é gasta na agricultura, especialmente na agropecuária. Sem falarmos disto, não vamos conseguir mitigar as consequências das secas. Em relação à água, é ainda preciso mencionar que a agropecuária é uma das principais causas de poluição dos nossos rios e lençóis freáticos.

 

 

UP: Agora aquela grande questão: onde vão os vegetarianos buscar a proteína?

Todos os alimentos têm alguma quantidade de proteína e é bom não pensarmos em cada um como uma fonte única de um nutriente. No entanto, alimentos como tofu, seitan, soja, tempeh, feijão, grão de bico, lentilhas representam a maior parte da proteína numa dieta vegetariana. No entanto, hoje em dia já temos muitas alternativas vegetais à carne com sabor e texturas semelhantes e muitas vezes um perfil nutricional melhor (menos gordura trans ou saturada e colesterol). Estes também pode fazer parte da dieta, mas de forma mais esporádica.

 

UP: Quais são os alimentos que nunca faltam na tua despensa e no teu frigorífico?

Não consigo viver sem aveia, tofu, frutas e leguminosas no geral.

 

Pergunta de uma leitora do UniPlanet: Para quando um documentário em canal aberto sobre os impactos de uma alimentação e consumo à base de produtos de origem animal?

Isto seria excelente, principalmente sobre os impactos em Portugal, uma vez que já existem alguns ao nível internacional. É importante que seja um documentário factual, sempre baseado na ciência e imparcial. Da minha parte, estou totalmente disponível para colaborar.

 

Rafael Pinto

 

UP: O teu documentário preferido é…é impossível ficar indiferente à série Planet Earth ou Cosmos, mas relacionados com veganismo aquele que está mais bem conseguido é o The Game Changers, apesar de ter algumas críticas a apontar (que deixei num vídeo no canal).

 

UP: O teu livro preferido é…Saúde e Fitness Vegan ahah recomendo ainda o Bem Comer, Melhor Jogar ou O Vegetariano como referências do vegetarianismo em Portugal.

 

UP: A tua música preferida é…ritmos eletrónicos como house e progressive house

 

UP: Onde podemos encontrar mais informação sobre o teu trabalho?

Redes sociais é o melhor local para me acompanhar, mas recomendo a todos que passem no canal de YouTube, uma vez que tenho disponível, de forma totalmente gratuita, todo o conteúdo do livro, mas em formato de vídeo, mais interativo.

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