Futuros arqueólogos lembrar-nos-ão pelos infindos ossos de galinha que deixaremos para trás

Futuros arqueólogos lembrar-nos-ão pelos infindos ossos de galinha que deixaremos para trás

19 de Dezembro, 2018 0

Galinhas

Os seres humanos produzem e comem tantas galinhas – cerca de 66 mil milhões por ano – que elas se tornarão um símbolo importante do Antropoceno, concluiu um novo estudo.

Muitos cientistas têm sugerido que vivemos agora numa nova época geológica, o Antropoceno, uma era caracterizada pelo impacto das atividades humanas no planeta.

Os ossos da galinha moderna, um animal modificado pelos seres humanos, poder-se-ão tornar “marcadores fossilizados” desta era, disseram os autores da investigação.

As galinhas modernas são, de longe, as aves mais numerosas no planeta – existem aproximadamente 23 mil milhões delas. Em comparação, a segunda ave mais abundante – o pardal-de-bico-vermelho – só conta com 1,5 mil milhões de espécimes.

E estas galinhas são muito diferentes dos seus antepassados. “A galinha moderna de aviário é irreconhecível em relação aos seus ancestrais ou aos seus congéneres selvagens. Tem um esqueleto superdimensionado, uma composição química dos ossos e uma genética distintas”, contou Carys Bennett, geóloga da Universidade de Leicester, no Reino Unido, e coautora do estudo publicado na revista científica Royal Society Open Science.

Nos anos 50, foram iniciados esforços para produzir frangos de maiores dimensões. Desde então, a ave passou por grandes mudanças, sendo criada seletivamente para engordar rápido.

A galinha moderna come constantemente, atingindo o peso para abate em apenas 5-7 semanas.

“O rápido crescimento do tecido muscular das pernas e do peito leva a uma diminuição relativa do tamanho dos órgãos, como o coração e os pulmões, o que diminui o seu funcionamento e, consequentemente, a esperança de vida do animal”, escreveram os investigadores.

Galinhas
Fotos: Otwarte Klatki/Flickr

“As atividades humanas alteraram as paisagens, os oceanos, a atmosfera e a superfície da Terra”, disse Carys Bennett. “Como a espécie mais numerosa de vertebrados terrestres do planeta, com a biologia modificada pelos seres humanos, as galinhas modernas são um símbolo da nossa biosfera alterada.”

Poderíamos dizer que estamos a viver no planeta das galinhas”, observou a geóloga.

“Normalmente são precisos milhões de anos para a evolução ocorrer, mas bastaram algumas décadas para produzir uma nova forma de animal”, afirmou Jan Zalasiewicz, professor de paleobiologia da Universidade de Leicester e coautor do estudo.

Milhares de milhões de ossos de galinha acabam nos aterros, onde as condições anaeróbias tendem a mumificar a matéria orgânica.

O enorme número de ossos de galinhas descartados no mundo significa que estamos a produzir um novo tipo de fóssil para o futuro registo geológico”, disse o professor.

Se a ideia de o frango se tornar um símbolo da nossa época for desconcertante, as outras opções não parecem muito melhores, dizem os investigadores. Segundo Carys Bennett, quando as gerações futuras examinarem as rochas da nossa época, provavelmente encontrarão “latas, garrafas de vidro, pedaços de material que antes eram artigos de plástico e, entre eles, ossos de galinha”.

Os investigadores preveem, contudo, que a “era das galinhas” não durará. “Apesar de o consumo de frango ser muito popular de momento, o facto de os maiores produtores de frango do mundo – a Tyson Foods e a Perdue Farms – estarem agora a investir em proteínas vegetais é um sinal de mudança”, disse a geóloga. “Os tempos estão a mudar e as pessoas procuram alimentos que sejam melhores para o ambiente, assim como para a sua carteira.”

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