Universidade cria chinelos feitos à base de algas para proteger os oceanos

Universidade cria chinelos feitos à base de algas para proteger os oceanos

20 de Outubro, 2017 0

Estudantes e professores da Universidade da Califórnia em San Diego desenvolveram os primeiros chinelos do mundo feitos a partir de algas. Quando começarem a ser produzidos para comercialização, deverão custar cerca de 2,5€ e os seus criadores acreditam que poderão ser revolucionários.

“Embora os chinelos pareçam um produto sem muita importância, um artigo descartável que toda a gente usa, de facto são o calçado mais usado no mundo”, contou Stephen Mayfield, professor de biologia da Universidade da Califórnia em San Diego, que, juntamente com Skip Pomeroy, professor de química e bioquímica, liderou este projeto de investigação.

Todos os anos são fabricados três mil milhões de chinelos feitos à base de petróleo no mundo, que, eventualmente, acabam como lixo não-biodegradável nos aterros, rios e oceanos.

“Este é o calçado de um pescador e de um agricultor. É o calçado mais utilizado na Índia, o mais utilizado na China e em África. E, de facto, um dos maiores poluentes no oceano é o poliuretano dos chinelos e do outro calçado arrastado ou atirado para os rios e que vai parar ao oceano”, disse o professor.


Stephen Mayfield, professor de biologia da UC em San Diego | Foto: Erik Jepsen/UC San Diego Publications

Dois anos antes, os dois professores, em conjunto com os seus alunos, desenvolveram a primeira prancha de surf à base de algas – uma inovação que foi rapidamente adotada por vários surfistas profissionais.

“A prancha de surf feita com algas foi o primeiro produto óbvio a fazer, mas quando olhamos para os números, apercebemo-nos de que fazer uns chinelos ou a sola de uns sapatos assim é muito mais importante”, contou Stephen Mayfield. “Podem-se fabricar espumas rígidas ou macias com o óleo de algas. E podem-se fazer produtos renováveis à base de algas como pranchas de surf, chinelos, calçado desportivo de poliuretano, assentos de automóvel ou até os pneus para o seu carro.”

Juntamente com Michael Burkart, professor de química e bioquímica, os dois professores criaram uma start-up, chamada “Algenesis Materials”, na qual alguns dos seus alunos trabalham, desenvolvendo os chinelos e outros projetos.

“Ensinar química na sala de aula, por vezes, é como tentar ensinar futebol no quadro”, comentou Skip Pomeroy. “No laboratório, os estudantes ficam muito mais empenhados quando estão realmente a tentar resolver um problema. A maioria das pessoas dirá que os nossos alunos são muito, muito inteligentes, mas nem sempre têm experiência prática. Esta é uma forma de lhes proporcionar essa experiência.”

“Parte do desafio é que, habitualmente, eu fazia uma descoberta, publicava um artigo e, de certa forma, acabava aí”, explicou Stephen Mayfield. “Mas a melhor invenção que não sai do laboratório não é realmente útil para o mundo. E a forma de a tornar numa invenção útil é transformá-la num produto.”

Como o primeiro produto da Algenesis, os chinelos permitirão à equipa aperfeiçoar a sua fórmula e o processo de fabrico, abrindo o caminho para futuras solas de sapatos e outros produtos, que normalmente são feitos à base de petróleo.

“O petróleo vem das algas que viviam nos antigos oceanos há centenas de milhões de anos”, explicou o professor de biologia. “Muitas pessoas não sabem disso. Mas o que isto significa é que tudo o que podemos fazer a partir do petróleo podemos, em última análise, fazer com as algas.”



Foto: Erik Jepsen/UC San Diego Publications

Os chinelos Triton, assim designados em virtude do tridente que os adorna, são sustentáveis porque o carbono usado para os fabricar foi retirado da atmosfera e não de reservas de petróleo existentes no subsolo. Os cientistas também querem torná-los biodegradáveis.

“A ideia que queremos levar por diante é a de fazer estes chinelos de forma a poderem ser colocados num contentor de compostagem e os microrganismos os consumirem.”

“Se conseguirmos fazer estes produtos sustentáveis e biodegradáveis, podemos ter impacto não só em San Diego, mas em todas as comunidades com praias de todo o planeta”, conta o professor, que também é surfista. “Em San Diego, temos esta fantástica cultura de surf; muito do nosso corpo docente e muitos dos nossos estudantes são surfistas e eu acho que todos nós compreendemos, por causa da nossa ligação ao oceano, quão importante o ambiente é.”


Foto: Erik Jepsen/UC San Diego Publications

Antes de os chinelos serem produzidos para comercialização, em que contarão com a ajuda de uma fábrica de calçado em León, México, serão fabricados alguns milhares de pares como teste, que serão disponibilizados aos antigos estudantes da Universidade de Califórnia em San Diego e distribuídos em eventos especiais.

“Vai passar algum tempo antes de se poder comprar um par destes chinelos na loja, mas não demasiado”, disse Mayfield. “O nosso plano é que, no próximo ano, se possa ir à loja comprar uns chinelos Algenesis que são sustentáveis, biodegradáveis e que foram inventados pelos alunos da Universidade da Califórnia em San Diego.”

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